Um dos problemas do mundo é o fingimento.
As pessoas fingem o que não são o tempo todo. Eu opto pela
simplicidade: tento ser o que realmente sou.
Gosto de andar descalça, canto na rua e, eventualmente,
converso com animais e plantas. Algumas vezes, preocupo-me com o exagero de ser
eu mesma e finjo ser séria. Afinal, a loucura não é bem vista nesse mundo de
sensatos. Porque sensatez é fingir o tempo todo e fingir parece ser muito
importante.
Há quem tenha mais
vocação para fingimento. Admiro-os e os invejo profundamente. Penso que deve
ser sacrificante não poder ser o que se realmente é o tempo todo.
Admito: não tenho vocação para racionalidade constante. Prometo
a mim mesma me controlar, falar difícil, ficar séria em situações em que queria
sorrir. Grito e me calo. Bato e assopro. E nessa tentativa freqüente de tentar
ser o que não se é, sou inconstante. E a inconstância me transforma em louca. O que me leva a crer que há duas espécies de
loucura: a loucura real, de ser o que se realmente é; e a loucura inconstante
na busca pela normalidade...
E no final das contas deve haver mais sensatez na minha
loucura do que na sensatez dos normais. Quanto a mim, resta-me dizer:
desenvolvi a deliciosa capacidade de não me levar muito a sério...