O doce sempre tentou ser doce. Mas doce, doce. Não aqueles doces enjoativos. Não aqueles doces que nos fartam. Doce como se deve ser.
Entretanto, sempre encontrou amargos no caminho. E o doce nunca era suficiente. Nunca foi suficiente.
Se exagerasse na doçura, poderia passar do ponto.
Na verdade, o doce não sabia lidar com o amargo. Quando se misturavam... Ah! Aí, o doce azedava!
E o azedo o atordoava... Não sabia lidar com o azedo e isso era um problema...
Era um problema também todas as vezes que o doce resolvia querer ser insípido. Um dia bastava e ele já se achava insosso. E voltava a ser doce. Dizem que doce vicia...
O maior medo do doce era se transformar em sua antítese: o salgado.
Ah, não! Isso seria mesmo mal... Salgado demais amarga. E o amargo, de fato, não o apetecia...
Quando cansado, o doce talhava. Se apaixonado, derretia...
O doce sempre tentou combinar os sabores. Entretanto, há sabores que não se prestam à combinação... Entristecido, o doce não sabia qual o sentido da vida sem as combinações.
Até que percebeu que o sabor advém do conjunto de sensações. Separadas, juntas. Juntas, separadas. Não importava. Bastava senti-las.
E, para tanto, ele precisava ser doce. Mas doce, doce. Não aqueles doces enjoativos. Não aqueles doces que nos fartam. Doce como se deve ser.
Helena Telino 07/04/2011 1:34
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